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caldo verde... oh home forte caldo verde!

Wednesday, August 30, 2006

Recreio

Bate o pé no chão
segura em sua mão
o objecto roubado
não devolve e revolve
a paciência dissolve
e ei que por fim
não me tenho em mim
dou-lhe um estaladão

Tiro-lhe da mão
ainda me diz não
o brinquedo do outro
rapaz e capaz
de chorar, soluçar, lacrimejar
arrancar os cabelos
partir os tornezelos
furar as orelhas
agarrar as abelhas

Com os olhos no chão
o vazio da mão
já não diz que não
parte-me o coração
o brinquedo roubado
já está a ser usado
pelo outro rapaz

O outro rapaz
que nem foi capaz
de algo dizer
talvez agradecer

Fico descontente
pensamento latente
pertinente persistente
ponho ao corrente
o rapaz amuado
de meu plano ousado

agarrar e fugir
correr e subir
descer e não cair
ruas ruelas
becos e vielas

ele acena que não
e segura-me a mão
diz que já não quer
o brinquedo de um qualquer
e aponta uma mulher
que ali se encontra

-Dizem que tem brinquedo a ter mais em conta!

Wednesday, August 23, 2006

Velhas de Agosto

Agosto de 2006 foi prolífico em velhas...
A velha ainda não morreu!

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Estas senhoras que aqui estão
dão-me cá uma emoção
meto a mão na algibeira

Para tirar um cigarrinho
fumá-lo devagarinho
anda aqui minha carteira

Estou aqui para entreter
esta primeira não é porca
nada tem a temer
não fujam por aquela porta

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Uma velha cozinheira
que abusava da manteiga
não tinha colher de pau

Ofereci-me para ajudante
já sabia o bastante
ela disse: não és mau

Fazia uma feijoada
sacudia o colorau
às vezes entremeada
eu só queria o bacalhau

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Uma velha que se bufa
tem por saia uma estufa
arejada por demais

Guarda o seu botão de rosa
de forma habilidosa
não se rende aos meus ais

Quero ver a desabrochar
sua flor com seu espinho
não me importo de picar
sopra a ferida com carinho

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Velha viúva quis casar
decidiu experimentar
todo o homem da aldeia

Começou lá numa ponta
diziam estar sempre pronta
um dia eu abordei-a

Ela queria o José
de experimentar já estava magra
ele mora aqui ao pé
e abusa do viagra

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Essa velha é muito chata
famosa por ser beata
um dia quis-se benzer

Disse-me: oh pecador
no peito sinto uma dor
tentarei te converter

No peito busquei consolo
no colo lacrimejei
crucifixo quis eu pô-lo
julgo que Deus alcancei

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Duas velhas lavadeiras
escamavam umas moreias
à beira de uma pia

Com o sabão a deslizar
garganta aberta a cantar
aquilo era uma alegria

Apareceram lá dois homes
com o olho na peixarada
tavam cá com umas fomes
foi moreia e marmelada

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Velho de larga experiência
percebe muito da ciência
de agradar umas velhinhas

Tira a toalha da mesa
aquilo é uma limpeza
põe-nas lá bem sentadinhas

Os talheres quer guardar
colocá-los no faqueiro
e mais tarde ao jantar
a sobremesa vem primeiro

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Certo velho muito sábio
percebia do adágio
experimentara muitas cousas

Podres vícios ele tinha
bons conselhos adivinha
conhecera muitas moças

Pedi-lhe o seu conselho
com toda a minha esperteza
respondeu-me logo o velho
elas gostam dela tesa

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Teu avô foi pra atafona
farto da velha mandona
encontrou lá minha avó

Debruçada numa pana
lava sem piscar pestana
teu avôzinho teve dó

O velho quis ajudar
da minha avó se abeirou
e lavou sem reparar
as cuecas de meu avô

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Quem mal fala também mal ouve
este adágio não é novo
é fácil de decorar

Velha que quer ter razão
não usa da contenção
desata a esmiossar

Um certo caso fortuito
a velha não quer guardar
e onde falar há muito
sempre há muito errar

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Velho poeta quis escrever
para pôr uma velha a ler
seu humilde pensamento

escreveu escrevinhou
de noite não se deitou
uma quadra com sofrimento

Eu quero ter-vos presente
para que com os teus olhos
ilumines meu aposento
pois eles são muito fogosos

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Uma bicicleta montanha
comprei-a ca minha manha
estava pronto para as curvas

Na barra da bicicleta
aguentei muita boneca
velhas com as vistas turvas

Era um tal de pedalar
com muitas forças muitas garras
punha as velhas a gritar
oh velha vê se te agarras

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Uma velha bordadeira
q'ia subindo a ladeira
de mini-saia encarnada

Ia subindo atrás dela
ela arqueava a canela
e por baixo não tinha nada

Veio ali uma ventania
vento forte assoprava
a velha até gemia
das pernas assobiava

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Uma velha sem dinheiro
tinha um belo mealheiro
nunca tinha sido usado

espreitei por aquela fresta
encostei lá minha testa
sempre fui muito ousado

1
Eu tinha um saco de moedas
quis-lhe dar um dinheirinho
disse-me: vê lá se pegas
no mealheiro com jeitinho

2
Eu tinha um masso de notas
quis-lhe dar uma esmolinha
disse-me: vê onde botas
essa nota enroladinha

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Uma velha muito louca
a inteligência era pouca
abria a bouca pa gritar

Deixou cair a placa
ruminava como vaca
a gengiva a brilhar

A velha não tem vergonha
continua a sua lida
toda a gente espera que ponha
a dentadura partida

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Uma vez por brincadeira
quase caí da cadeira
apalpei uma velha idosa

O seu pai estava lá
oh rapaz tu anda cá
respondi-lhe: é carinhosa

A velha olhou para mim
estava morta pra casar
fugi para o Porto Pim
e nem sequer sei nadar

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Uma velha muito velha
q'era mesmo muito velha
mais velha que a irmã mais velha

Outrora quando era nova
menos nova que a irmã mais nova
era nova muito nova

Agora que é mais velha
gosta mais de gente nova
e apesar de ser mui velha
sente em si a velha nova

Velhas

Numa sexta-feira da Semana do Mar de 2006 (Agosto), juntou-se um grupo de pessoas para socializar e fazer um barbecue no Largo do Leite, na Lajinha (Feteira).
As meninas juntaram-se e escreveram umas velhas. As meninas eram Lia, Jackeline, Elizabeth e Antónia.
A nossa resposta foi tão simples quanto isto:


Toda a santa mulher
só se junta quando quer
para dizer mal dos homens

Juntas vão elas mijar
mas vem sempre cá parar
tem todas muitas fomes

Ao barbecue vieram comer
um franguinho e entremeada
puseram-se a escrever
velhas que não valem nada

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Lia, Antónia, Elizabete
com elas ninguém se mete
são tesas para rimar

Mas não tem o microfone
e o nosso está no on
venham cá para cantar

Gosto de ver essa goela
bem aberta e escancarada
adoro olhar pra ela
já está muito bem treinada

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Liazinha Liazona
levavas-me uma tapona
só por causa desse rimar

Tens a mania que és santa
usas bem essa garganta
mas não é para cantar

Enquanto bebo uma bujeca
olho pra ti oh princesa
pareces uma boneca
tremes ca nossa firmeza

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Não é só c'o violão
que se faz uma canção
Antónia a dedilhar

Tu pegas nesse instrumento
aproveitas o momento
mas começa a descambar

C'a mão sobre o instrumento
fazes forte ressonância
apesar do gesto fraco
tocas nele com muita ânsia

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Eles fizeram a comuída
vocês só querem buída
tão praí apanhar fume

Eles fazem muita brasa
vocês vão mas é pra casa
não aguentam q'este lume

Que esses homens que aqui estão
fazem coisas do caneco
vossa única função
é afagar o tareco