A velha ainda não morreu (31)

Projecto musical de reabilitação de um género musical açoreano de contornos populares. A velha é cantada com o acompanhamento da guitarra da terra, instrumento típico, é uma espécie de canção ao desafio com rimas do arco da velha...
Objectivo da banda: New Bedford. Toca a Velhar.

Programa para o espetáculo:
1º Vacas; 2º Introdução (o que são as velhas); 3º As nossas velhas; 4º Velhas Arde no Couro; 5º Cotas; 6º Caracol; 7º Lengalenga; 8º Finalização (ele vai pá terra..)



Certa capuchinho vermelho
de saia pelo joelho
passeava pela floresta
> > >
Ia visitar a avó
oferecer-lhe pão de ló
e bacalhau na sua cesta
> > >
Saltou-lhe de um arvoredo
esfomeado o lobo mau
"menina não tenhas medo
só quero o teu bacalhau AU AU AU"




Velha bruxa muito má
de todas talvez quiçá
a pior que já se viu
> > >
Conheceu um príncipe castiço
de pronto fez-lhe um feitiço
enfiou-o no seu covil
> > >
A bruxa tinha carência
do jovem fez seu brinquedo
mas ela não tinha resistência
morreu 'co próprio bruxedo




Vivá 'primeira velhaca
decora e põe na saca
começa a tradição
> > >
uma velhaca que se preze
não há quem a despreze
não se faça confusão
> > >
A velhaca é moderna
joga com todos os ases
toca o disco na taberna
gira todos os rapazes




Une vieille de Paris
en temps beaucoup de jolie
s'est rendue folle de la téte
> > >
Sa vie est-une grande romance
connaît plus jeunes de vacances
est fidèle de toutes les fêtes
> > >
Elle cherche hommes toute la nuit
portez seulement une vison
elle dit "Bonsoir chérie
allez-nous à ma maison



Velha d' aldeia mui sábia
dotada de grande lábia
dos provérbios percebia
> > >
Água mole em pedra dura
tanto bate até que fura
com esta até se ria
> > >
Água mole ela não queria
para si não era a cura
'prós seus males só pedia
uma boa pedra dura



Uma velha do deserto
não via água por certo
há mais tempo que o que contara
> > >
Apanhava tanto sol
que rastejava à caracol
pelas dunas do Sahara
> > >
Ela tinha umas miragens
de oásis com sultães fartos
sentia umas aragens
saltava em cima dos cactos




Uma velha poetiza
dos versos sacerdotiza
era mestre dos poemas
> > >
Sonetos ela escrevia
como o Camões não sabia
era dona dos dilemas
> > >
Ao agarrar na caneta
punha-se a imaginar
blica rima com boceta
era um tal de inventar





Uma velha carpideira
quando perdia a estribeira
só pensava em se matar

reflecti na situação
e tomei a decisão
da velha eu ajudar

ajudei enquanto pude
da velha tratei eu bem
tinha cá uma saúde
dizia sair á mãe.

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Nascida em Porto Pim
diziam gostar de mim
nunca a velha o confirmou

quando na rua a encontrava
para mim ela não olhava
como a pobre se envergonhou

foi depois já com oitenta
que perdeu toda a vergonha
eu rondava os noventa
ela gritava ponha ponha.

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Uma velha muito feia
de uma pequena aldeia
decidiu vir á cidade

ruas estreitas encontrou
prédios altos vislumbrou
deu-se-lhe uma saudade

o rés-do-chão é o suficiente
muito carinho cuidado
tem uma paixão ardente
pelo vizinho do lado.

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Uma velha cozinheira
que abusava na manteiga
não tinha colher de pau

ofereci-me para ajudante
já sabia o bastante
ela disse não és mau

ela queria feijoada
falei-lhe no bacalhau
caracaça com marmelada
também não é nada mau.

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Uma velha inteligente
só bebia aguardente
dizia lavar-lhe a alma

quatro vezes por semana
apanhava uma buzana
a velha perdia a calma

agarrava-se ao pescoços
velhos bêbedos e casados
que comiam seus tremoços
depois iam aos lavabos.

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Uma velha da terceira
que fumava á maneira
prometeu-me dar um chuto

de cigarrilha lhe falei
do cachimbo a relembrei
ofereci-lhe meu charuto

o tabaco só faz é mal
essa verdade já sabia
atravessei muito quintal
nem olhava por onde corria.

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Uma velha lá da feira
armada em feiticeira
percebia do voodoo

tinha bola de cristal
tal e coisa, coisa e tal
tudo o resto é tabu

não gostei do seu trabalho
prometeu-me um Tarot
agarrei aquele baralho
pelo ar tudo voou.

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Uma velha desdentada
come tudo á dentada
mrcela com ananaz

mesmo com a sua idade
sente muita felicidade
apesar de não ser capaz

janta de faca e garfo
tudo come ás rodelas
no fim manda o bagaço
apanha grandes pielas.

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Uma velha canadiana
tipo princesa Diana
só andava com chofeur

gostava de usar coroa
não ingeria broa
só curtia co alfér

preparei uma armadilha
cacei-a com muito engenho
botei-lhe salsaparrilha
comia com muito empenho.

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Uma velha marinheira
nadava de braçadeira
tinha medo de alforreca

não gostava do mar alto
vivia num sobressalto
a comer sua panqueca

caravelas, galeões
sete mares já navegara
broches e medalhões
tudo ela já usara.

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A Maria e o José
pegaram na Salomé
e foram pra São vicente

encontraram o António
na taberna do Custódio
a beber sua aguardente

pela avó Ana perguntaram
tio Chico em Lisboa
outros nomes não se lembraram
a aguardente era boa.

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Uma vez por brincadeira
quase caí da cadeira
apalpei uma velha idosa

o seu pai estava lá
oh rapaz tu anda cá
respondi-lhe é carinhosa

Ele já nos finalmentes
perseguiu-me a correr
atirou-me com o dentes
tive quase pra morrer.

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Viajava de concorde
era de New Bedford
esta velha que vos falo

Tinha umas boas histórias
tudo agora só memórias
escorridas por um ralo

Namorara com o John Wayne
dos filmes de hollywood
o cowboy era insane
rebentava-lhe com a saúde

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Uma velha da minha idade
conheci-a na cidade
era ainda eu miúdo

brincávamos aos doutores
fingia ter grandes dores
tratava-me da saúde

Com estetoscópio na mão
queixava-se de arritmia
mas eu tinha a solução
era a colonoscopia

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Uma velha do Faial
fazia um cagaçal
todos os fins de semana

Ela ia para a tasca
ter com a geração rasca
chamavam-lhe tia bifana

Bifana com muito pão
maionese e muito molho
dava-lhe uma aflição
ficava que nem um repolho

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Uma velha com catarro
fumava o seu cigarro
às portas de um botequim

Ela bebia bagaço
tinha um estômago de aço
era um grande frenezim

Ela mandava piropos
aos miúdos da freguesia
agarrava-se aos cachopos
aquilo era uma folia

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Era uma vez uma Lia
que de borga percebia
gostava muito de festa

Ela bebia uns shots
apanhava bubas fortes
encostava o chão à testa

Ela foi para o Faial
dizia lá trabalhar
mas aquilo era um bacanal
era um tal desatinar

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Um dia que se passou
uma velha me ensinou
a dançar a chamarrita

Punha os braços no ar
e as pernas a balançar
aquilo é que era estrica

Aquilo era um movimento
estava ali um grande encaixo
a velha perdeu o tento
botou-mas calças p´ra baixo

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Era uma vez uma cota
que viajava de mota
parecia um foguete

Com os cabelos a voar
e os lábios a chocalhar
não usava o capacete

Na mecha em contramão
bateu de frente num homem
cairam os dois ao chão
aquilo foi uma desordem

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Uma velha de Alfama
bebia à fartazana
muitos litros de sangria

Ela vinha ao Tejo bar
à noite desatinar
tinha cá uma mania

Ela tocava guitarra
atirava-se aos Erasmus
aquilo era uma farra
até lhe dava uns espasmos

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Batalhar no Vietnam
já dizia o uncle Sam
nã tem nada a ver com hortas

Eu fui lá p'aquela terra
mas não gostava da guerra
só queria pombas tortas

Conheci uma asiática
por mim se apaixonou
queixou-se da ciática
quando a arma disparou.

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Uma velha marinheira
navegava de traineira
sozinha com a mão no leme

dava-lhe uma inquietude
ao lembrar da juventude
mais urgente que o INEM

Endoideceu pela certa
atirou-se borda fora
caiu de perna aberta
no bico de uma albacora

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Uma cota de são roque
gostava muito de rock
ouvia muito nirvana

Ia para os concertos
levava muitos apertos
mas curtia à fartazana

ela atirava-se ao mosh
agarrava o que podia
aquilo era um deboche
até das pernas tremia

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Uma cota da Sibéria
famosa por ser galdéria
trabalhava num bordel

como aquilo era um briol
agarrava-se ao tintol
e à vodka de mel

Tinha muitos fregueses
pagavam-lhe o vencimento
mas passavam-se meses
sem ponta de aquecimento

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uma velha do Faial
cavava no seu quintal
muitos quilos de verduras

Não tinha nenhum vizinho
e ao agarrar no ancinho
sentia umas tremuras

Couves e abacates
podava à tesourada
na falta de bons tomates
virava-se à cenourada

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Uma velha das antigas
bebia no dia de amigas
que era uma coisa maluca

agarrava-se ao bagaço
tinha um estômago de aço
procurava o truca truca

agarrou-se ao velho Estaca
que viera de São Roque
ele disse "tira a placa"
e canta-me o karaoke

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Uma velha desdentada
gostava de uma noitada
no bar do senhor Alance

Bebia muita angelica
coçava muito na crica
à procura de romance

Tecia a sua teia
por quem tinha um fraquito
mas ela era tanto feia
não apanhava um mosquito

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Uma velha cozinheira
que tinha uma ganda peida
abusava na maizena

Muito coisa ela comuía
engordava a cada dia
que até metia uma pena

Apareceu-lhe o Abreu
que vinha lá da Fajã
era fã de um bom pneu
da marca da michelin

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Um dia que se passou
fui a casa de mê avô
encontrei lá uma velha

Ele tinha-a engatado
num tasco ali ao lado
não batia bem da telha

Fez-me uma proposta
de um ménage à trois
fomos para uma encosta
oh velha tu vem-me cá

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Uma velha da Feteira
lavava roupa na ribeira
abusava do sabão

Saia curta e lençol
lavava na água mole
esfregava bem à mão

Para a frente e para trás
era muito despachada
se me visse era capaz
de ficar muito assustada

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Velha que não toma banho
só recebe do desdanho
de quem tem nariz na cara

um velho mais desatento
ou por causa dum bom vento
chegou-se mais perto dela

vendo que ela cheira mal
ele foge de mansinho
assustou-se com o animal
que só caga de fininho